segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O anarquismo na revolução

Na realidade, existe uma não pequena confusão sobre o que seja anarquismo. O próprio termo foi usado por vários autores antes de Bakunin, nomeadamente por Proudhon (que não foi o primeiro). Estes estavam conscientes que o termo estava conotado com o conceito de caos, desordem. Porém, eles acreditavam que a negação da «arquia» ou seja do poder, entenda-se do poder político, do poder sobre os outros, se tornaria o sentido predominante. A burguesia, vendo que era uma teoria que acrescentava perigo às «classes perigosas», decidiu estigmatizar o termo como sinónimo da pior desordem social.

Apesar disso, a realidade dos meados do século dezanove fez com que o anarquismo esteve muito mais próximo das classes populares e inspirou muito mais os revolucionários da Iª Internacional, do que o comunismo/socialismo/social-democracia, autoritários, protagonizados por Marx e todos os que consideravam que a formação de partidos, capazes de disputar as eleições e obter deputados nos parlamentos, era a única saída para a classe trabalhadora.

A primeira revolução proletária, a Comuna de Paris, mostrou ao próprio Marx que a comuna era a forma orgânica de poder popular, um tipo de governo federalista, onde todas as secções estavam mobilizadas para realizar as tarefas da revolução, sob controlo permanente das assembleias.

Alguns anos mais tarde, em 1905, na primeira grande revolta do proletariado russo, surgiu uma forma de organização, os conselhos de operários ou sovietes, das fábricas em greve, das fábricas ocupadas, inspirada pelos anarquistas russos e que ia beber à comunidade rural tradicional (o Mir) que ainda estava viva neste época e que Kropotkine descreveu. Eram estes os verdadeiros sovietes!

Após a revolução de Fev. de 1917 estes ressurgiram, uns saindo da clandestinidade, outros organizados pela primeira vez, nomeadamente os sovietes de soldados. Foi uma habilidade de Lenine, maquiavélica, de fazer crer que o partido bolchevique estava com a organização dos sovietes, o famoso slogan «todo o poder aos sovietes», que proclamou após o triunfo do golpe de 7 de Novembro de 1917: foi exactamente o princípio do fim dos sovietes como organismos de organização do povo, do proletariado.

O último soviete livre, o de Kronstadt, de onde tinha partido a insurreição da marinha, foi afogado no sangue pouco tempo depois, em 1921 (http://www.struggle.ws/russia/mett/background.html).

Mas os libertários tiveram outras experiências de organização federalista, horizontal, em democracia directa: qualquer revolução ocorrida na Europa, após a revolução russa, recorreu aos conselhos de operários insurrectos: foi assim nas comunas de Berlim e Munique, na república dos Conselhos húngara, biénio rosso italiano, na vaga de greves que acompanhou a vitória do Front Populaire em França e por fim, na revolução espanhola.

Nestes episódios trágicos, os comunistas autoritários frequentemente tiveram um papel de controlar e depois de abafar esses embriões de poder popular. Eles nunca deixaram que os trabalhadores assumissem uma verdadeira auto-gestão. Eles mantiveram o sindicalismo estritamente ligado a um corporativismo, reaccionário e ineficaz. Negaram e combateram o sindicalismo revolucionário, mesmo quando se auto-proclamavam como tal. Estiveram sempre do lado do poder, pois sempre foram idólatras do poder, apenas usando retórica revolucionara.

O sectarismo foi sempre o traço dominante do seu pensamento. Fomentaram as divisões sindicais, tornaram difícil ou impossível a constituição de frentes de resistência ao fascismo em crescimento nos anos 20, apenas mudando de táctica quando já mais de metade dos países da Europa estavam com regimes fascistas (nos anos 36- 39 a Alemanha, a Polónia, a Hungria, a Roménia, a Jugoslávia, a Albânia, a Grécia, a Bulgária, a Itália, Portugal eram regimes fascistas ou fascizantes).

Os anarquistas que estavam nos sindicatos foram apelidados de «anarco sindicalistas» pelos leninistas, que pretendiam assim estigmatizar, isolar, apontar do dedo, aqueles que não aceitavam a hegemonia do PC sobre o movimento social e sindical. Os sindicalistas revolucionários autênticos tentaram evitar as rupturas, bateram-se para que houvesse uma frente unida sindical. Porém, os bolcheviques das diversas tendências digladiavam-se como hoje, para ver quem hegemonizava o movimento sindical. Por isso o movimento sindical acabou por ser esmagado, a república espanhola foi esmagada pelos fascistas de toda a Europa e não apenas pelas tropas de Franco. Graças a isso Estaline pode fazer o seu pacto germano-soviético, com a partilha da Polónia como prémio. Assim começou a IIª guerra mundial. O povo russo pagou bem caro a loucura do seu ditador. A destruição que sofreu o povo soviético foi muito maior porque Estaline não queria dar nenhum sinal
de que tinha qualquer desconfiança para com Hitler!

As pessoas são mantidas na ignorância da história dos movimentos revolucionários, insurreccionais, porque não vão procurar as visões menos ortodoxas, aceitam com uma candura impressionante os «clichés» que são propagados pelos livros escolares de História, ou pelas cartilhas dos partidos ditos «operários».

Se nos debruçarmos para compreender verdadeiramente a realidade desses movimentos insurreccionais, vemos que eles não obedecem de forma nenhuma aos esquemas simplistas que os ideólogos propagam.

Hoje igualmente, com a insurreição grega, passa-se a mesma coisa. Os média ao serviço do poder não explicam o contexto, apenas assustam as pessoas com imagens de «violência».

Manuel Baptista

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Declaração Sobre Gaza

A existência de um morticínio, aqui à nossa porta, em Gaza, é um sinal da barbárie instalada. Recusamos a chamar a isso «acção de guerra»; a acção punitiva de Israel é uma violação das convenções de Genebra e dos mais elementares direitos humanitários, inserindo-se na actuação genocida de que os palestinianos têm sido vítimas. De facto,

O ataque a populações civis tem sido efectuado continuamente
Os civis são impedidos de sair da zona por um cerco continuado que dura desde que o Hamas teve a maioria em 2006 (não só em Gaza, em todo os Territórios palestinianos, com 70% dos votos)
Os civis são sujeitos a uma contínua e planeada escassez de alimentos, água potável, energia, medicamentos, etc., intensificada nesta ocasião pelos israelitas.
Os ataques são motivados pelo desejo de eliminação física de inimigos políticos, sendo os alvos declarados figuras políticas do movimento Hamas e da restante resistência palestiniana.
As acções de guerra de Israel são muito mais do que actos de retaliação pelos foguetes disparados a partir de Gaza, não só pela sua desproporção (mais de 400 mortos do lado palestiniano, contra 4 mortos do lado Israelita), como pelo facto de se mostrarem ineficazes.

O objectivo dos sionistas de Israel é claro: pretendem, nesta «janela de oportunidade», entre a passagem de poderes de presidente dos EUA, resolver o «problema do Hamas», com a conivência da chamada Autoridade Palestiniana. Sucede que o "problema Hamas" nasceu do repúdio dos palestinianos pela corrupção da Autoridade a qual, para subsistir, necessita do apoio político e material de Israel. E os massacres levados a cabo por Israel, não só acentuam a resistência do povo ao inimigo sionista, como isolam a Autoridade, obrigada a brandos protestos contra as acções de Israel.

Israel é uma entidade totalmente ilegítima, uma vez que se constituiu sobre territórios conquistados pela guerra ou usurpados por leis racistas, de acordo com as quais, os palestinianos em particular e os árabes em geral são uma "raça" inferior, sem direito à legitimidade emanada dos seus textos "sagrados".

O seu objectivo, desde o início da ocupação é expulsar a população palestiniana de Gaza e da Cisjordânia, com políticas que tornam a vida normal impossível para as populações. Agora, como nos massacres de 1948 pretendem gerar uma situação de força para aceitarem, e devido tempo, uma trégua onde os palestinianos terão a oportunidade «generosa» de fugir desse inferno, do maior campo de concentração que jamais existiu!

Estamos perante um genocídio encapotado, iniciado antes da fundação do próprio estado sionista, assumindo, em certos momentos, características de «limpeza étnica». Não esqueçamos que o slogan do movimento sionista (já no século XIX) era: «para um povo sem terra (o povo judeu) uma terra sem povo (a Palestina)», pretendendo fazer passar a ideia de que a Palestina seria um quase deserto e negando, portanto, a existência do povo palestiniano constituído por gente de confissões religiosas distintas (muçulmanos, judeus e cristãos) vivendo sem conflitos confessionais.

O que permite isto tudo é a atitude de falsa neutralidade dos poderes ocidentais, incluindo a posição hipócrita de europeus, que se pretendem numa posição de equidistância quando, na verdade, é um povo inteiro que está a ser martirizado por um poder colonial. Quando considerarem a limpeza étnica suficiente, os europeus, com capacetes azuis ou de outra cor, legalizarão tudo como fizeram em relação à ex-Jugoslávia, pretendendo estabilizar uma partição étnica que Israel nunca considerará acabada enquanto não constituir o seu Eretz Israel, estado "etnicamente puro" mas, com bantustões árabes fornecedores de mão de obra precária e barata nas imediações.

Uma parte importante da opinião pública é iludida com a ideia racista de que os israelitas «são como nós» europeus, sendo os palestinianos «árabes». Isso é falso, primeiro, porque não existe um fosso político e cultural tão grande entre a população palestiniana, em que uma fracção importante adopta uma atitude laica em religião e tem um posicionamento semelhante às várias correntes políticas e ideológicas do ocidente. Depois, porque etnias ou diferenças civilizacionais não constituem fontes de legitimidade para uma classificação de um povo como superior ou inferior em relação a outros.

Trata-se, neste momento, de denunciar uma imagem falsa, difundida pelos órgãos responsáveis da UE de equidistância neutral, como se tudo se tratasse de um desaguisado entre detentores de direitos legítimos. Não há equivalência, mas, um lado agressor, opressor, colonial, culpado de genocídio e criminoso de guerra (o lado israelita) e um lado agredido, oprimido nos seus anseios legítimos, no seu direito à própria vida, vítima num genocídio que se estende por gerações (o lado palestiniano). Mesmo quando este último recorre a uma legítima e justa luta armada, a tratar-se de um combate entre «David e Golias», David, não é o futuro rei dos Judeus, mas um pastor palestiniano, lutando pelo direito à existência.

O Colectivo Luta Social (Portugal)

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

TRAIÇÃO SINDICAL


Nos Açores, está em curso uma revisão do ECDRAA - Estatuto da Carreira Docente dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário e dos Educadores. Nos próximos dias realizar-se-ão negociações entre o Governo e os dois maiores sindicatos, o SDPA, filiado na FNE(UGT) e o SPRA, membro da FENPROF (CGTP).

Este último sindicato, contráriamente ao que seria de esperar (ou não) tem sido um grande aliado do Governo Regional dos Açores. Com efeito, nos últimos tempos, dirigentes e delegados sindicais seus têm boicotado todas as iniciativas independentes dos professores dos Açores apelando à revisão/revogação do Estatuto em vigor e a suspensão do actual modelo de avaliação.

Curiosamente os seus dirigentes não têm qualquer "complexo" em aparecerem nas manifestações espontaneas que se têm realizado em Ponta Delgada.

Para que não não caia no esquecimento, abaixo transcrevo o relato de um plenário do SPRA onde convidado de honra esteve presente Álamo Meneses, o pai do ECDRAA e do modelo de avaliação que se pretende remendar.

Aqui vai:


Vocês sabiam que em Outubro de 2006 o presidente (Armando Dutra) do maior sindicato açoriano (SPRA) teve o desplante de convidar para um plenário desse sindicato o secretário regional da educação (que é o equivalente a um ministro da educação para os açores). Pois é o tal secretário regional da educação (Álamo de Meneses) que em Janeiro de 2002, à laia de Hitler, implantou um regime de concursos xenófobo que entretanto também se generalizou á Madeira. Este artista segue a linha de pensamento de pessoas como : José Sócrates ou Mª de Lurdes Rodrigues com a diferença de ter um pouco menos de vergonha na cara. Só para terem uma ideia este secretário regional da educação (Álamo de Meneses) já chegou a dizer em reuniões com sindicatos coisas como : 1) “Quem não está satisfeito não venha trabalhar para cá !!! “ 2) “Não lhe agrada esta ou aquela norma do ECD ? mas olhe que não faltam pessoas que querem ser professores !” 3) Relativamente ao regime de faltas , atestados etc disse : “Até nos internamentos eu hei-de meter a unha ” Quanto ao ECD para os Açores que não hajam ilusões é a mesma Mer… e o processo negocial também !!! ou seja: é inexistente e pelos vistos o secretário regional da educação (Álamo de Meneses) já anda a manipular os sindicatos pela pessoa do Sr Armando Dutra, que agora já o convida para plenário sindicais. HAJA VERGONHA !!! Falta explicar o que aconteceu no referido plenário. Sim, afinal o que faz um secretário regional da educação num plenário sindical ? Fez o que todos os políticos fazem quando lhe surge muita gente pela frente: “política essencialmente”. Mas não foi uma política qualquer, os nossos políticos estão a desenvolver um novo estilo de fazer política e o ataque aos funcionários do estado faz parte da estratégia. De uma forma mais ou menos explicita este bicho teve a lata de deixar mensagens do género : 1) não julguem que aqui o ECD vai ser diferente !!! ; 2) os professores trabalham pouco ; 3) os professores faltam muito ..é uma vergonha a quantidade de atestados que surgem colados às férias de Natal ; etc Ou seja para além de fazer política gozou claramente na cara dos presentas. Bem e querem saber a melhor… a generalidade dos professores ouviu e aplaudiu … É caso para dizer: « têm o que merecem !!!» (e aqui não posso dizer “temos” porque eu demarco-me claramente deste tipo de palhaços e palhaçadas).

Extraído daqui: http://www.saladosprofessores.com/index.php?option=com_smf&Itemid=62&topic=7340.0